Por que criptomoedas são inevitáveis

Acredito que seja nítido para todos que criptomoedas vieram para ficar e alterar completamente a maneira como as pessoas vêem dinheiro. Não é muito difícil de entender por que: quase qualquer um hoje em dia criou uma conta em alguma corretora de criptomoedas. Aqui no Brasil, as maiores são provavelmente Foxbit e MercadoBitcoin, mas há muito tempo parei de prestar atenção no cenário brasileiro de criptomoedas, coisa que explicarei melhor depois.

Não sei se é preciso lembrar todos disso, mas não faço aconselhamento financeiro e eu potencialmente posso ter errado alguma coisa. Mas se quiserem se aventurar nesse mundo, sugiro que vejam esse meu vídeo depois de ler esse texto.

Breve introdução

Primeiramente, gostaria de explicar o porquê de criptomoedas serem praticamente inevitáveis no rumo da internet e da vida real das pessoas.

A ideia inicial era criar alguma maneira de fazer transação de dinheiro sem meio termo. Não tanto tempo atrás, antes de Pix existir e antes de criptomoedas existirem, toda vez que se quisesse fazer transferências muito grandes de dinheiro era necessário entrar em contato com o banco, que ligaria para você, cobraria taxas de transferência gigantescas, e demoraria dias para poder fazer essa transação. Claro, para a maioria das pessoas isso não importa tanto afinal sua economia de anos de 20000 reais não é nada perto de transações milionárias de empresas, mas isso é uma questão importante para pessoas que lidam com grandes quantias.

Sakamoto, o criador do bitcoin, provavelmente é um dos maiores — se não o maior — programador da história, e ele estava disposto a resolver esse problema. Ele publicou um artigo entitulado Bitcoin: a Peer-to-Peer Electronic Cash System basicamente colocando esse problema (e a sua solução) em vista. Por alguns anos o bitcoin acabou sendo tratado como algo meramente de internet, ou que nunca iria para frente... apenas para em 2021 coisas como regulação de criptomoedas ser considerado.

Com o tempo, outras tecnologias baseadas no bitcoin foram surgindo. A mais importante delas provavelmente é a Ethereum. Enquanto Bitcoin (de ticker BTC) já permitiu que as pessoas começassem a, dentre outras pequenas coisas iniciais, transacionar grandes quantidades de dinheiro de maneira independente, a rede Ethereum e a sua moeda de mesmo nome (ETH) permitiu que as pessoas pudessem realizar mais questões financeiras por meio de criptomoedas.

Dentre as opções que surgiram com a rede Ethereum, temos a criação de contratos invioláveis e disponíveis para todo o público (os famosos smart contracts), além de opções financeiras. Agora qualquer um pode ser um investidor.

Várias empresas e vários desenvolvedores começaram a aplicar ideias que tinham no mercado de criptomoedas. Isso é um caso que fica bem nítido quando tratamos, por exemplo, da moeda da Binance, provavelmente a maior corretora do mundo. A Binance Coin (BNB) foi criada para facilitar o manuseamento de diferentes criptos dentro da própria corretora (e fora dela também, já que a Binance tem uma rede própria). Assim, é como se as pessoas pudessem comprar algo similar a ações da empresa através dessas moedas. Isso foi facilitado pela criação da rede Ethereum porque se tornou muito mais fácil criar tokens dela. Qualquer um com conhecimento em uma linguagem de programação específica, Solidity, pode criar a sua própria token e atualizar conforme quiser. Claro, por um lado isso abre portas para oportunismo, mas não é muito diferente do mercado tradicional.

Uma das coisas mais interessantes a se surgir foi staking. O processo de staking pode ser resumido a "emprestar" parte de suas tokens para uma corretora (centralizada ou descentralizada) para que suas trocas com aquelas tokens sejam validadas. O ato de simplesmente emprestar essas tokens é crucial para as trocas envolvendo a tal token naquela rede, então o ato de fazer staking é recompensado com juros. Hoje em dia existem staking pools, que é uma espécie de staking em conjunto e permite que mesmo com menos tokens você possa participar do processo e receber juros por isso.

A maravilha do mundo de criptomoedas é que você se tornou seu próprio banco!

Alguns problemas e algumas soluções propostas

Privacidade

Por mais revolucionária que essa tecnologia seja, ela não é exatamente infalível.

Por exemplo, muitas pessoas assumem que "cripto" de "criptomoedas" tem algo a ver com privacidade, mas não é o caso nem de perto. Mencionei as redes e a blockchain antes, e elas são a origem de alguns problemas. Quando falei de smart contracts eu deixei um pouco a entender. Ora, se qualquer um pode ter acesso a contratos que ficam públicos na blockchain, o que acontece com as carteiras? Simples: a mesma coisa. Todas carteiras têm absolutamente todo seu conteúdo e todo seu histórico de transferências público para que absolutamente qualquer pessoa possa ver.

Isso pode ser (e realmente é) desconfortável, afinal qualquer um pode saber o que você ganha ou o quanto você tem, mas existem algumas maneiras simples de contornar isso até certo ponto. A mais óbvia é: criar novas carteiras. Obviamente qualquer um pode criar carteiras a qualquer momento, e a princípio não existe nada que associe uma carteira a uma pessoa. Por mais que o governo (ou qualquer outra entidade) possa ter acesso a uma carteira sua, ele nunca vai saber o que é a outra. Claro, isso pode ser taxado no fim das contas, mas isso seria um problema novo.

De certa forma, criptomoedas como o bitcoin e o ethereum são moedas ideais para o governo, porque todas as informações são públicas para todos.

Existem tecnologias como as parachains da Polkadot (DOT),uma token de Ethereum, que são focadas em privacidade. A tecnologia de Taproot do Bitcoin sendo desenvolvida para melhorar questões de privacidade também. A ideia por trás dela é fazer transações de smart contract (incluindo transações Lightining Network, que explico um pouco à frente) serem vistas como transações simples, então todas as transações na blockchain ficam essencialmente iguais em natureza.

Além disso, existem criptomoedas que são focadas em privacidade, as chamadas privacycoins. A mais famosa delas é a Monero (XMR), que trouxe algumas ideias novas. Por exemplo, não existe algum scan como o Etherscan para ver todas as transações de Monero, porque isso é inútil. As transações em Monero não são confirmadas pela pessoa que está enviando XMR, mas tecnicamente por dez endereços diferentes. Além disso, os endereços são "reservados", de tal forma que tecnicamente você tem um endereço diferente para cada transação sua, com uma chave privada que só você tem acesso, o que se chama steal address.

É de conhecimento e acesso público que o próprio Satoshi Nakamoto pretendia implementar no Bitcoin muitas dessas tecnologias que só estão presentes para XMR.

Inclusive, enquanto no começo da década passada BTC era usado em transações envolvendo atividades ilegais, XMR hoje em dia é a norma. Isso, além dos fundamentos da moeda, garante que ela tenha uso contínuo, por mais que BTC ou ETH ou qualquer outra valham mais.

E Monero e as parachains da Polkadot não são as únicas soluções para isso. Existem outras privacycoins, algumas puramente copiando outras (como Wownero copiando Dogecoin em estética), mas com a filosofia de privacidade por trás, outras realmente tentando implementar algo novo, como a Pirate Chain (ARRR).

Outra coisa importante para entender é que no mundo de finanças descentralizadas, uma vez que suas moedas estão numa pool ou algo similar, é essencialmente impossível fazer qualquer coisa com elas. Se você for suficientemente cauteloso, você se torna essencialmente invisível.

Um dos motivos para eu ter parado de usar corretoras brasileiras para comprar criptomoedas, além do serviço porco deles (no caso, só usei a Foxbit), é que as leis brasileiras podem influenciar esses serviços. Enquanto isso, leis brasileiras não podem influenciar corretoras de outros países. A FTX hoje em dia é provavelmente a mais estável em questões legais, mas a Binance ainda é provavelmente a mais útil.

Custos e velocidade de transação

Transações de bitcoin são notoriamente caras comparadas a outras criptomoedas (ainda que mais baratas do que as normais de bancos), e isso não seria um problema tão grande caso ela fosse proporcional à quantidade de moeda a ser transferida, mas... não é o caso.

O custo de transação é definido por uma série de questões como as condições da rede e o tamanho das transações (em quantidade de informação, não em quantidade de moeda). Cada transação na blockchain do bitcoin não passa de 1MB de informação, o que, conforme o número de usuários aumenta, diminui muito a velocidade das transações e ainda pode aumentar o custo.

Anos atrás isso foi motivo para discussão na comunidade de bitcoin e criou o primeiro grande fork no BTC: o Bitcoin Cash (BCH). Os responsáveis pelo Bitcoin Cash fizeram uma única mudança: aumentar a quantidade máxima de informação na blockchain para 8MB. Isso seria suficiente para não termos tantos problemas, mas o Bitcoin Cash nunca foi popular, e praticamente caiu no esquecimento. Hoje em dia ele não chega aos 3000 reais.

A solução mais recente para isso é a Lightning Network. Para explicar o funcionamento dela, é primeiro necessário explicar o funcionamento das trocas na blockchain normalmente. De maneira simplificada, caso uma pessoa queira movimentar 10 BTC, dificilmente isso vai acontecer de uma vez, então esses 10 BTC são divididos em várias parcelas que eventualmente são trocadas e, enfim, a transação se completa. Isso acontece em praticamente toda transação e ocupa espaço daqueles 1MB. A Lightning Network em vez de registrar cada uma dessas trocas na blockchain apenas registra a de entrada e a de saída, enquanto as outras ficam na Lightning Network.

O que eu mais uso para contornar isso são redes diferentes. O vídeo que mencionei logo no começo do texto é sobre uma carteira de cripto que você pode criar e acessar por uma extensão do navegador, a Metamask. Um serviço como o da Metamask (existem outras) permite que você possa usar um único endereço para redes diferentes. O mais padrão é o uso da rede Ethereum mas, assim como com Bitcoin, os custos de transação dela são muito altos. Para isso, você pode usar redes diferentes, como a Binance Smart Chain (BSC) ou a Polygon (MATIC). Além disso, outras carteiras permitem que você use outras redes: Solana (SOL), Cosmos (ATOM), etc..

Cada uma dessas redes tem uma moeda "principal" que é usada para você pagar as transações dela. Na rede Ethereum, você paga as transações com ETH; na BSC, você paga com Binance Coin (BNB); na MATIC você paga com Polygon (MATIC), e assim por diante. As taxas das duas últimas são significativamente menores do que as anteriores. Enquanto uma da BSC pode custar até 1 real, em média, as da Polygon são ainda mais baratas.

É importante dizer que isso também é algo que não aconteceria numa moeda como a XMR. O custo de transação é baixo por natureza — só imaginar que toda transação ilegal em criptomoedas é feita com ela e ainda assim custos são baixos —, e a velocidade, apesar de não ser extremamente rápida como na Lightning Network ou em redes alternativas, é alta.

Meus pitacos

DeFi

Enquanto esses são os problemas principais e algumas alternativas para quem se preocupa com eles, eu acredito que existe coisa útil a ser feita no mundo de criptomoedas ainda que você se preocupe muito com privacidade a um nível paranóico. Não tem por que se preocupar com esse tipo de coisa enquanto você não for uma baleia milionária. E, como eu falei antes, finanças descentralizadas são uma maneira de se defender de coisas como governos porque, como o próprio nome diz, não é uma entidade centralizada. Seria necessária a cooperação de milhões de pessoas para conseguir ir atrás de uma única.

Mantendo isso em mente, saiba que os stakings mais rentáveis sempre são feitos em corretoras descentralizadas. Um bom exemplo é a Pancake Swap. Enquanto corretoras centralizadas como todas as brasileiras, a Binance, a FTX e outras exigem seus documentos (CPF, RG, etc.) para criar uma conta, o que já é preocupante para os usuários, as descentralizadas só têm uma exigência: que você tenha uma carteira de criptomoedas. A mencionada Pancake Swap precisa que você tenha uma carteira com acesso à rede BSC, como a Metamask é capaz de fazer (e, novamente, sugiro o vídeo que linkei no começo do texto).

Em corretoras descentralizadas, costuma se ter várias opções do que se fazer financeiramente. As opções são várias, incluindo lending, pools, mas as que eu particularmente mais uso é staking. Na Pancake Swap, se você fizer staking da token deles, CAKE, os seus rendimentos podem ir até 90% ao ano, em CAKE. Claro, isso não conta a possibilidade de CAKE desvalorizar e, se você tiver comprado a 20 dólares no começo do ano e estiver valendo 5 dólares no final do ano, você ainda sai perdendo 10 dólares caso o rendimento anual for de 100%, mas a possibilidade disso acontecer é muito baixa porque a moeda é utilizada de diversas formas: ela tem utilidade intrínseca.

Dei a Pancake Swap de exemplo mas ela nao é a única. Outra para a rede BSC é a Moonpot, que semanalmente faz loterias com as pessoas que estão participando da pool deles. Quanto mais dinheiro você coloca lá (com rendimentos bons, de 30 a 80%), mais chances você tem em um sorteio semanal. Outro exemplo é a PancakeHunny, que funciona de maneira similar à PancakeSwap mas rende em duas moedas diferentes, CAKE e HUNNY.

Em outras redes, temos ainda algo como as pools do Sunny Aggregator que rende na blockchain da Solana, ou staking de ATOM na rede Cosmos pela Keplr.

A grande vantagem do mundo DeFi é que além de ter rendimentos impressionantes, você ainda pode variar facilmente o que quiser testar.

Privacycoins

Acredito que, com o tempo, as tecnologias para melhorar a questão de privacidade do Bitcoin vão ser mais acessíveis, mas não acabam com o problema fundamental de sua tecnologia da blockchain. Se continuarmos andando em direção de estados cada vez mais totalitários, as melhores opções serão sempre as privacycoins, e eu tenho algumas delas, em especial Pirate Chain (ARRR) e Monero (XMR). Recentemente eu mineirei também Raptoreum (RTM), mas não foi muita coisa e ela não vale tanto, apesar de ter potencial dado que o mercado de privacycoins sempre tem usuários.

Investimento no geral

Obviamente eu não sou ninguém para dizer o que você deve ou não fazer com seu dinheiro mas, da maneira como falei sobre as finanças na introdução, existem diversas formas de seu dinheiro render. A mais simples, como também falei, é staking. Aqui eu vou dizer algumas formas de se fazer staking.

Mencionei a PancakeSwap, que provavelmente é a mais fácil de se utilizar. Criando a carteira como no vídeo que falei no começo, é possível ter acesso a diferentes pools e stakings. Mas eu tenho usado mais o Moonpot como eu disse, por causa da pequena diferença em rendimento anual ser compensada com uma probabilidade não-irrelevante de ganhar uma loteria semanal.

Para quem tem ATOM na rede Cosmos, a Keplr oferece staking com rendimento não tão alto assim, mas não desprezível. Além disso, é possível de acontecerem airdrops e você essencialmente ser premiado com dinheiro de promoção dado em algum evento. Não é tão alta a probabilidade mas vale a pena. E eu tenho certo apreço pelo projeto da Cosmos (ATOM), então assumo que o seu valor vai subir.

Além disso, existem opções de lending em corretoras como a SushiSwap que também fazem seu dinheiro não ficar parado. Nela também tem a BentoBox, que funciona em diferentes redes, mas eu honestamente não vi tanto rendimento.

Existe também a Sunny, que oferece bons APYs até em stablecoins.

Falando em stablecoins, existem criptomoedas que são lastreadas em matéria real. A mais famosa é a USDT, que é lastreada em dólar, mas existem outras: USDC também lastreada em dólar, BUSD, idem, e outras latreadas em coisas como ouro, caso de PAXG, ou prata, como SLVT. Existem ainda algumas lastreadas em café, por exemplo. É como se qualquer um pudesse entrar em investimentos.

Por fim, deixo aqui meu pedido de esmola e sugestão de um cartão de crédito de cripto. Espero que tenha sido útil.

Doe!

BTC: 3Q5WQssfpnaSXKiTzaJZvZzWonbG3coBus
Qualquer uma nas redes ETH, BSC, Polygon (ETH, MATIC, BNB, etc.): 0xa6c145D418D4706c7c1961F52573f7e1302B3fc2
LBC (se cadastre no Odysee): bHSYN1u6GFdUcyUS4EM2rWgiwMefuRmK8B
DOT: 15XfUqZmaPagJjxmG6sroem8vhQonPHqD4fSdiSNZFLteoZk
Monero: 48yoPMnYP7xCpqDddUZdpX26y8yWkvuiAXxnbWxrSmcEUifKDJJ4S9SbtR3n3p7rhiXkkkBqydeG1MteJDg4FFzm1xxt1H1
ARRR (Pirate Chain): zs1ahrq880jvae05w40vhtkfv2gpgdgqdmz9wu070yyue8mng7yrnzpznlwv3hxkcznxjscwnhskgl
ATOM: cosmos17urcmql4c39snhj0u67k8txatrht4ju9qul8mj
SOL: 5sHW8iAkFJeX1raqT7w1kSsfBk2KnVCaPh9rsz7zwDFq

Doação plebeia em real: Pix: eeae2348-9852-450a-9e2a-7b8ad6abd0de